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Do ninho vazio ao reencontro

  • Helena e Mello
  • 8 de jul. de 2015
  • 2 min de leitura

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DO NINHO VAZIO AO REENCONTRO

Helena e Mello

Terapeuta de Casal e Família

Estávamos, após o jantar, na sala assistindo televisão. Apenas o som vindo do aparelho percorria o ambiente. Mas havia o silêncio dominando. Nada ressoava em mim, nem mesmo as imagens do jornal televisado.


O que significava tudo aquilo? Em que ponto da estrada ficou o casal que eu e meu marido formávamos? Que ventos espalharam nossos sonhos, nossos desejos, nossos sentimentos?


De repente indaguei-me: quem é o homem que está ao meu lado? Não reconheço nele o jovem enamorado, o marido apaixonado ou mesmo o pai dos meus filhos. Será que ele me reconhece hoje uma mulher diferente daquela com a qual firmou compromisso de vida comum?


As perguntas povoaram minha mente e sem respostas retornei ao silêncio, único elo a nos unir.


Uma inquietação dominou-me. Lembrei-me de ter ouvido de minha terapeuta algo sobre a síndrome do ninho vazio.


Ativei minha memória e revi o passado. Vinte e cinco anos de casamento marcados pelo nascimento de três filhos, planejamento financeiro, economias que culminaram com a compra da casa própria. Nosso primeiro carro, a escolha da escola dos meninos. Partilha das ansiedades e angústias com as doenças infantis. Noites insones. Apreensões com a educação e o futuro dos nossos filhos adolescente. As formaturas. Quantas emoções, sacrifícios pessoais, alegrias e vitórias. Nesse caminhar retrospectivo visualizei meu marido sempre ao meu lado e senti o peso do silêncio que nos calou.


Surpreendi-me ao perceber claramente que nossos filhos agora adultos têm caminhos próprios. Percebi também que nosso acervo emocional superava o acúmulo dos bens materiais e dos ganhos sociais.


Indaguei-me: Estamos retornando a vida a dois e recomeçando ou chegando ao fim da caminhada conjugal?

Voltei a olhar para meu marido na quietude da sua intimidade silenciosa e silenciada. No meu vazio havia clara a sombra do homem amado.


E, naquele instante algo eclodiu em mim. Comecei a ouvir o som da minha voz. Era a minha fala quebrando o silêncio. Na verdade, um pedido para nos tornamos visíveis. Houve de início, uma resposta tímida, cambaleante foram palavras ditas. Era como se fossemos aprendizes um do outro.


Lentamente nos chegamos, nos reconhecemos e assim ficamos como se o tempo nos reapresentasse. Sorrimos e começamos o diálogo há muito interrompido. Falamos sem pausa, atropelamos palavras e sentimentos. Recordamos momentos e acontecimentos. Idealizamos outros sonhos, trocamos novos desejos. Firmamos promessas diferentes. Realinhamos os trilhos por onde retomaremos nossa viagem em busca de novas ocorrências mesmo dentro dos antigos acontecimentos.



E a noite se fez aurora. Tudo refloresceu quando compreendemos o valor do diálogo, do revelar-se, do reconhecer-se.


Por isso, sinto, acredito que sempre é possível redescobrir o outro na relação de casal enriquecido pelo amor amadurecido e fortalecido pelo respeito, companheirismo e admiração.


IAF – Instituto Integrado de Apoio à Família

Recife, 11 de agosto de 2011.


 
 
 

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