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O TEMPO E A HISTÓRIA

 

Mudanças ocorrem nas relações humanas, pessoas falam uma das outras, rejeitam-se e também convivem com igual ou aparente normalidade. Avalio coisas, situações e pessoas. Tenho a esperança de ver em alguns momentos sinceridade e amor, mas são tão poucos que chego a descrer da emoção que corresponde a tais sentimentos. Flutuo entre o falso e o real; a encenação e a vida.

 

Repasso etapas para rever o mosaico existencial do passado. Tento apreender tudo o que ficou disperso no redemoinho de um caminho percorrido sem bússola e de uma vida encenada sem roteiro.

 

Reflito: Quantas eu sou? Para o Estado sou um numero estatístico. Para os meus filhos uma referência. Para os amigos - poucos - uma presunção de solidariedade. Para os desafetos um incômodo. Para os colegas de trabalho um exemplo, uma parceira ou um adversário.

 

E continuo: serei eu, na linguagem teatral, um figurante com fala ou um coadjuvante com aspirações a atriz principal? Serei eu uma gaivota que se imagina águia ou uma águia com medo do espaço e da altura que revelam a liberdade?

 

Como me fazer compreender?

 

Procurei, procurei e tornei a procurar uma forma, uma maneira, uma mensagem ou escritos sobre minhas reflexões, fantasias e lembranças.

 

Não achando resolvi lhe contar uma “história”. A minha narrativa é uma história com “h”, porque essencialmente verdadeira e real. E, é também estória com “e”, pela roupagem de fantasia usada para embalar com amor e carinho um núcleo de esperança e vida.

 

Sigo com o misto das histórias e estórias, ora falseando a realidade dos fatos ora colorindo lágrimas que lavam rosto e alma, bem como aquelas secas proibidas de gotejar.

 

Em A força de atração, o psicanalista J. B. Pontalis fala de “palavras que atravessam o tempo para organizar o passado, conferir-lhe sentido a partir de fragmentos e vestígios”. Mais adiante encontro outra fala: “Há o tempo vivido, mas principalmente o tempo imaginário. Essa foi uma das descobertas que tanto surpreendeu Freud: suas pacientes histéricas não tinham realmente sido seduzidas. Tratava-se de uma construção psíquica. Histórias que a pessoa conta a respeito de si mesma nas sessões de análise (e também fora delas) também são construções, nem sempre ocorridas daquela forma. Ainda assim estão presentes no psiquismo, seja com o objetivo de descobrir reminiscências da sexualidade infantil ou como desdobramentos possíveis de um passado reconstruído.”

 

As pontuações do pensamento científico clarificam ou tentam clarificar a complexidade da “historicidade humana” marcada por experiências, idealizações e desejos. Ao entrelaçar os fios do tempo com as construções mentais reúno momentos e atos como retalhos que se ligam na formação do grande tecido da vida.

 

Ainda preciso ir ao encontro do filósofo Santo Agostinho, quando tratando do tempo diz:

 

“O que é o tempo? Se alguém me perguntar, eu sei,

se quiser explicar, não sei. Porém, atrevo-me a declarar,

sem receio de contestação, que se nada sobrevivesse,

não haveria tempo futuro e, se agora nada houvesse,

não existiria tempo presente. (...)

Os tempos são três: presente das coisas passadas,

presente das presentes,

presentes das futuras.”

 

No meu sonho de loucura maior gostaria é ir para um lugar, escrever e esperar para ler aquelas palavras outra vez, ouvir de novo o dizer e as músicas, sentir cuidados, carinhos e amor. Tudo é tão absurdo e irreal. A alternância do viver e do perder é tão violenta na minha vida que chego a duvidar da realidade dos acontecimentos e da minha própria história.

 

Acreditava ser uma mulher racional que os outros conceituavam de forte. Acabo não sendo nem uma coisa nem outra. Misturo tudo e deságuo no nada. Somente passado e presente.

 

Agora começo a minha história recheada por estórias de desejos e sonhos lançados ao tempo na unidade tríade de passado, presente e futuro. 

 

Autora: Helena Mello 

© 2023 por NÔMADE NA ESTRADA. Orgulhosamente criado com Wix.com

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